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Palavras ao vento - Cap. 2 ao 5

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Mensagem  Fernanda Dom Out 18, 2009 12:52 am

Capítulo 2:

Cinco horas da manhã o despertador de Isabel toca.



- Isabel desliga essa porcaria, eu quero dormir! Disse Mari.


Isa com os olhos fechados ainda, tateou até encontrar o despertador, sentiu vontade de jogá-lo na parede, mas no mesmo instante se lembrou do porque dele estar acordando-a. Não formulou uma frase inteira, apenas palavras perdidas em seu cérebro que ainda dormia. Escola - Aula - Crianças... foi o suficiente para um sorriso brotar em seu rosto. Espreguiçou. Bocejos escapavam a todo o momento de sua boca. Levantou-se, olhou para a cama ao lado e, Mariana já estava dormindo de novo.




Julia foi acordada com um telefonema, no meio da noite. Uma chamada para atender um de seus pacientes que sofrera um infarto. Estava na clínica desde as três da manhã, tentando salvar uma vida. Fez tudo o que podia, mas seu Jorge acabou morrendo.

- Vamos seu Jorge volta, volta, volta. Repetia Julia.

- Dra acabou, ele se foi! Disse uma das pessoas da equipe.

- Eu não aceito, ontem à noite ele estava bem.


Julia saindo da sala de operação tirou a toca verde e jogou no chão. Estava muito nervosa e triste. Mil coisas começaram a passar por sua cabeça. Foi para seu consultório e chorou. Sabia que não podia salvar todos, mas a morte de seu Jorge mexeu demais com ela. Ficou pensando, será que não o atendera direito, tantas suposições que não teria resposta naquela hora.
Tinha que avisar a família dele. Secou as lágrimas respirou fundo. Levantou-se e saiu.


Na sala de espera encontrou a família. Deveria ter umas sete pessoas na sala, alguns conversavam. A mulher dele estava sozinha sentada numa cadeira. Quando chegou à porta, todos se calaram e olharam em sua direção, a última pessoa que olhou, e já com lágrimas nos olhos foi a esposa, pressentindo a má notícia. Levantou-se e ficou esperando. Julia foi até ela.


- Dona Emily eu sinto muito. Fiz tudo o que pude. Mas ele se foi.

- Eu já sabia. Eu senti que ele não estava mais comigo.

- Eu mesma não acredito, ontem ele estava bem. O que aconteceu?

- Ele ficou muito nervoso com nosso filho mais novo.

- A senhora está bem, não está sentindo nada? Emily também era cardíaca.

- Estou bem, Dra Julia.

- Quero ver a senhora semana que vem. Agora preciso ir, a assistente social daqui a pouco vem falar com vocês. Meus pêsames a todos.


Julia saiu dali e foi tomar banho. Estava cansada, mas não foi para casa tinha consultas logo cedo.





Isabel estava pronta para ir para a escola. Recebeu boa sorte e abraços de Mari e Dona Fátima. Estava feliz e confiante. Mari a acompanhou até o portão.


- Mari sonhei tanto com este dia, espero que seja como em meus sonhos.


- Amiga vai dar tudo certo, as crianças vão te adorar! Agora vai! Porque não é nada bom a tia Isa chegar atrasada no primeiro dia...


- Já estou indo. Beijo


Mari ficou pensando enquanto a via indo com o coração cheio de esperança... "espero que o sonho dela não se torne pesadelo. Mari não pense isto", falou para si mesma.


Isabel foi para o ponto de ônibus. Pediram para que chegasse uma hora antes das aulas começarem. À medida que o ônibus aproximava-se de seu destino, sentia o coração mais acelerado. Pensava em sua mãe, queria que estivesse com ela. A carta que havia mandado com certeza não tinha chegado, contando tudo o que estava acontecendo em sua vida. Deu o sinal e desceu. Andou até a frente daquele colégio famoso, antes não parecia tão grande. Foi sacada de seus pensamentos ao ouvir alguém falando com ela.


- Senhorita, posso ajudá-la? Perguntou o segurança da escola.


- Pode. Estou um pouco nervosa, hoje é o meu primeiro dia aqui, e não conheço muito bem o colégio, você pode me levar até a Diretora.


- Posso, por favor, me siga.


Isabel foi tentando controlar sua emoção. Não queria parecer nervosa demais na frente da diretora.


- Oi, bom dia, Isabel. Disse a secretária da diretora.


- Bom dia... - disse apenas, pois não sabia o nome da secretária.


- Vou avisar a diretora que você chegou! Tem água e café ali. Apontou com o dedo indicador e Isa o seguiu até bater os olhos no bebedouro. Estava com muita sede, sua boca estava seca. Quando a mulher entrou na sala da diretora, ela correu beber água, bebeu tanto que parecia aquelas pessoas que não bebiam água a dias.


- Isabel pode entrar!


- Isabel - Bom dia!


A Diretora se levantou para cumprimentá-la. Ela aparentava uns 45 anos, tinha cabelos lisos e loiros na altura dos ombros. De estatura mediana, olhos castanhos claros. Achou bonito mesmo atrás dos óculos. Resumindo era uma mulher bonita.


- Ainda não nos conhecemos, quando esteve aqui conversou com minha sócia a professora Laura. Sou Adriana. Elas se deram as mãos.


- Isabel você vai pegar a classe da professora Fabiana, que adoeceu, e não volta até o ano que vem. Eu e minha sócia conversamos e decidimos contratar uma professora recém formada. Analisando várias candidatas, achamos que você tinha o perfil de nosso colégio. Inicialmente iríamos te contratar para dar aulas o ano que vem, para uma turma de crianças carentes, que foram apadrinhadas por empresários da região. São crianças vindas de orfanatos e terão a oportunidade de estudar. Como não esperávamos a licença da professora Fabiana, resolvemos te chamar agora para substituí-la. Vai ser bom para você, para se adaptar ao colégio e às nossas regras. Alguma pergunta?


- Não. Eu entendi tudo.


- Que bom. Isabel não espere muito das crianças elas gostavam muito da professora e não serão tão receptivas contigo nesses primeiros dias, então cabe a você conquistar a confiança delas. Não vou te esconder, essa é uma classe difícil.


- Difícil, em que sentido?


- Disciplina, são crianças ricas e mimadas.


- Eu sei que não será muito fácil, mas tenho que acreditar que vou conseguir o respeito delas.


Alguém bateu na porta e abriu. Isa que estava de costa para porta não pode ver quem era, apenas ouviu a pessoa falar, era uma mulher.


- Oi, Dri está muito ocupada?


- Não, já estou acabando aqui. Entra Julia.


Uma mulher de arrasar quarteirões entrou e foi direto cumprimentar a amiga, ou mais que amiga, pareceu para Isa. Pois deu selinho em Adriana, que não se importou com sua presença ali. Até naquele momento não tinha visto o rosto daquela mulher alta, de cabelos longos e negros. E num segundo depois ela se virou e olhou-a, nossa que mulher é esta, pensou.


Adriana fez as apresentações.


- Oi, tudo bem! Disse Isabel.


- Tudo. Por alguma razão aquela mulher a deixou tímida, seus lindos olhos azuis podiam enfeitiçar uma pessoa se não tomasse cuidado. Sentiu algo que não soube dizer quando tocou a mão de Julia ao se cumprimentarem...


Julia por sua vez mesmo triste, pensou... "essa loirinha é muito gostosa, eu a levaria para a cama agora. Seus olhos verdes parecem que me chamam para algo além de uma noite de amor. Que pensamento é este, desde que encontrei aquela poesia que estou tendo pensamentos bobos."


Adriana cortou aquele momento.


- Agora você pode ir, Bete vai te levar para conhecer a sua sala e te falar como funciona tudo por aqui.


- Tenham um bom dia. Com licença?


- Isabel foi um prazer te conhecer! Disse Julia com uma cara de safada.


- Eu também gostei de te conhecer. Disse e saiu.


- Julia o que está fazendo aqui tão cedo? Perguntou a diretora.


- Eu estava precisando falar com alguém. Perdi um paciente e fiquei mal. Ontem à noite estive com ele, mas não consegui salvá-lo. Ando me sentindo vazia, sei lá o que está acontecendo comigo, normalmente não fico tão triste com a morte de um paciente, como fiquei hoje, depois de anos perdendo vidas eu parei de sentir.


- Julia você parou de sentir muita coisa, parou de sentir seu coração, parou de se importar com os sentimentos das pessoas que você se envolve. Eu sei porque, mas acho que você se fechou demais para não sofrer e acabou se tornando uma pessoa fria, bom, mas não tanto... hehe.


- Que bom, ao menos isto, ninguém reclama na hora, nem a senhora. E falando nisto vamos sair hoje à noite? Estou com saudade desse seu corpo que me deixa louca. Venha aqui.

As duas se beijavam com voracidade, quase fizeram ali mesmo.


- Julia pára... eu não posso... você me enlouquece.


- Eu vou parar, mas se prepara porque esta noite faremos seu ap. tremer. Beijo... vou dar um beijo no Julio antes de ir. Até mais tarde! Ah! Esqueci, que professorinha gostosa essa que contratou, como se chama mesmo, lembrei, Isabel...


- Você não tem jeito, Julia. Acho que ela nunca lhe daria bola, não é o tipo de pessoa que se envolveria contigo, ao menos não com essa Julia pegadora.


- Ela é bem o seu tipo, "menininha ingênua" assim eu vou ficar com ciúmes. Brincou Julia.


- Eu gosto do seu tipo, me pega aqui as 9 da noite. E some daqui, porque do jeito que estou, não vou responder pelos meus atos...rss. Beijo.


Bete levou Isa até sua sala e a deixou lá. Voltou para a diretoria depois de explicar algumas coisas para ela.

Isa olhou para aquela enorme sala, carteiras enfileiradas, nenhuma se permitia estar fora de lugar. Um enorme armário, paredes brancas como a neve, em sua mesa tinha um computador. Abriu todas as gavetas da mesa, encontrou umas chaves que deveriam ser do armário, depois verificou a lista de chamadas e os nomes dos alunos com suas fotos, seria mais fácil para lembrar dos rostos de cada um. A professora Fabiana era bem organizada, detalhou o perfil de cada criança. Começou a ler e foi surpreendida pela chegada das primeiras crianças na sala. Eram duas menininhas pareciam grandes para 7 anos, mas se lembrou que ela é que sempre foi baixinha perto das outras crianças.


- Oi, meninas!


- Oi, disseram. Ficaram olhando para ela. Pareciam que queriam perguntar algo mais não disseram nada.


Os alunos foram chegando e se sentando, olhavam para ela e começavam a falar uns com os outros. Isabel ficou sentada olhando para eles também, esperando todos chegarem. Quando todos pareciam estar já na classe, notou uma carteira vaga.


Apresentou-se aos alunos.


- Oi crianças, eu me chamo Isabel e serei a professora de vocês até o final do ano. Sei que vocês gostavam muito da professora Fabiana, ela não está muito boa e só voltará o ano que vem. Não estou aqui para substituir o amor que todos tem por ela, eu só quero que possamos nos entender até o final.


Isa faz uma pergunta para a aluna que se senta em sua frente.


- Você sabe se o aluno daquela carteira vaga veio hoje, indicou o lugar e a menina se virou para ver de quem se tratava.


- O Julio veio sim, não sei porque não entrou.


Ela olhou o nome e a foto. Decidiu que ia procurar o menino.


- Crianças, vou ter que ir procurar o amiguinho de vocês, por favor fiquem em seus lugares.


Ela saiu nervosa, fazia 15 minutos que as aulas havia começado, e nada do menino. Não podia acreditar que no primeiro dia, logo um aluno sumiu. Se não o encontrasse teria que comunicar a diretora, Isa andou por quase a escola toda até onde não conhecia foi, já cansada e com medo da criança ter sido seqüestrada, indo em direção a diretoria, viu aquela mulher, a tal amiga da diretora vindo com o menino sem preocupação alguma, uma raiva lhe subiu na cabeça.


- Eu não acredito. Faz meia hora que as aulas começaram e seu filho não entrou... fiquei preocupada. Só porque é sei lá o que, da diretora não lhe dá o direito de trazer o menino a hora que queira. Hoje é o meu primeiro dia aqui, não conheço ninguém, nem sei como voltar para a classe. Fiquei com medo de o Julio ter sido seqüestrado, faz 15 minutos que estou feito barata tonta procurando o menino por toda a parte.

"Estou cansada, nervosa e com uma raiva tão grande da senhora por estragar o meu dia", pensou apenas, afinal ela era amiga da diretora, e não queria ser despedida no primeiro dia.


- Acabou, Isabel?


- Eu acho que sim... posso levar o menino para classe?


- Sempre venho vê-lo e a Fabiana não se importa. A Adriana é minha amiga, e quer saber, não tenho que te dar nenhuma explicação. Vai meu amor, senão ela terá um treco e terei que salvar a vida dela, e estou cansada no momento.

Julia disse meio que brincando, mas Isa não gostou.


- Eu vou rezar todas as noites, para que você nunca precise salvar a minha vida, acho mais fácil eu salvar a sua, que parece precisar bem mais. Você já é um caso perdido, já perdi muito tempo com a senhora. Vamos Julio.


Julio e Isabel foram para sala deixando Julia de pé ali pasmada consigo mesma, por ter deixado uma completa desconhecida falar daquele jeito e não conseguir dizer nada, talvez porque aquela jovem tivesse alguma razão.















Capítulo 3

Julia chegou na clínica cheia de raiva de si mesma. Como pude me calar diante daquela loirinha irritante, quem ela pensa que é. Eu podia ter ido reclamar dela para a Adriana, e porque eu não fui? Vanessa entrou e calou sua pergunta, que não teria resposta, não naquele momento.


- Juli como você está? Eu soube o que aconteceu com seu Jorge. Eu não acreditei, ontem à noite ele estava tão bem...


- A mulher dele disse que ele ficou muito nervoso com o filho. Eu não estou bem, acabei de ouvir umas coisas da nova professora do Julio. E você acredita que não disse nada. Ela acha que o Julio é meu filho, eu não disse que não era. Ela me irritou.


- E o que aconteceu? Perguntou Vanessa. Comendo um chocolate.


- Eu saí triste daqui e fui ver a Adriana na escola, estava precisando dar uns beijos em alguém para aliviar minha tensão desta madrugada. Conheci aquela loirinha de olhos verdes, na sala da Dri, mas eu não sabia que ela era a nova professora do Julio.

- Eu falei para você semana passada, que a professora do Julio tinha pegado licença e não voltaria mais este ano, que iriam contratar outra o mais rápido possível, mas como sempre a senhora doutora, não presta muita atenção no que falo.


- Depois que saí da sala da Dri, fui procurar o Julio, queria dar um beijo nele e ficamos conversando. As aulas começaram, mas permanecemos na lanchonete uns 20 minutos. Eu estava com fome e ficamos lanchando. Quando terminamos, fui levá-lo para a classe, e no meio do caminho aparece a Isabel desesperada atrás do Julio, pensando que o menino tivesse sido seqüestrado, ela não me deixou explicar, me disse um monte.


- Eu faria o mesmo que a professora, se ponha no lugar dela, começando a dar aula e um aluno desaparece, o que acha que iria pensar, tudo de ruim. Eu acho que você deveria se desculpar com ela, é o mínimo que deveria fazer. Você sabe que não gosto que faça o Julio chegar atrasado na aula, sei que a Fabi não se importava. Mas esta parece que se importa.


- Não vou pedir desculpa para ninguém. Sabe muito bem que não vou pedir desculpa por uma bobagem desta. Disse Julia ainda irritada. Arrancou um lasco do chocolate da amiga e comeu.


- Às vezes, não sei como você consegue ser tão insensível, tão egoísta, eu te amo, você é minha melhor amiga, mas tem certas atitudes suas que me enoja. Vanessa se virou e começou a sair...


- Vanessa não saia assim. E não deu a mínima para ela, saiu. Apenas disse: - Daqui 5 minutos vou mandar seu paciente entrar!



Voltando para casa, Isa, já mais calma, porém esgotada, foi pensando que passou a aula toda esperando ser chamada na diretoria, mas acabou não sendo ao menos, não naquele dia. Chegou em casa e não tinha ninguém. Passou pela cozinha, dona Fátima havia deixado seu almoço arrumado no prato, só tinha que colocar no microondas e esquentar, mas não estava com fome. Queria esquecer um pouco daquela manhã, que acabou sendo irreal. Foi para o seu quarto ligou o computador e enquanto ele carregava foi ao banheiro.
Começou a digitar uma poesia.



Medo

Tenho medo da chuva, dos raios e trovões
Tenho medo da solidão
Tenho medo da perda
Tenho medo de errar
Tenho medo de esperar
Tenho medo de sofrer
Tenho medo de me entregar
Simplesmente tenho medo
Mas o que fazer com esse sentimento paralisante?
Sempre arrumamos desculpas para camuflar os nossos medos
Não saio na chuva porque não posso me molhar
Não fico sozinha porque tenho medo de não ter quem chamar
Não conquisto porque tenho medo de perder
Não me deixo conquistar porque tenho medo de me entregar
Não arrisco pra não errar e aumentar o medo que existe em mim
Não crio expectativas porque tenho medo de esperar algo que pode não acontecer
Medo... Uma palavra tão pequena, mas tão grande em seu significado
Palavra que mostra a fraqueza humana
Palavra que incapacita o ser, que impede a felicidade
Felicidade essa que está em coisas simples
Um olhar
Um sorriso
Um abraço
Um beijo
Medo que impede que ações pequenas e sublimes se concretizem
Medo que invade a cabeça e o coração
Medo que controla as vontades e impulsos
Medo que atrapalha a evolução
Medo que encolhe o mais intenso sentimento:
O AMOR em todas as suas formas.

Medo era o que sentia naquele momento. Podia chegar na escola e não ter mais emprego. Perdeu a cabeça e discutiu com a mãe de um aluno. Tudo isso logo no primeiro dia. Que pesadelo!

18:00 horas


- Oi, Dri. Estou te ligando para desmarcar nosso encontro de logo mais. Estou com dor de cabeça. E você sabe que gosto de estar 100%, hoje não estou.


- Que chato, Julia. Tudo bem. Fica para outro dia. Julia aconteceu alguma coisa hoje pela manhã, entre você e a nova professora do Julio? É que vieram me contar algumas coisas.


- Não aconteceu nada. Não se preocupe, a Isabel não fez nada errado, estava apenas preocupada com o Julio, que não tinha entrado na aula e foi procurá-lo, e nos encontramos no corredor. Conversamos um pouco, ela levou o Julio para a classe e eu fui embora. Não sei o que os fofoqueiros disseram, mas a verdade é esta. Começou a pensar... porque estava mentindo!

- É que comentaram que vocês discutiram. Mas se você está dizendo que não, eu acredito. Então nem vou falar com ela sobre isto.


- Não fale. Não vejo, necessidade. Dri vou ter que ir agora. Beijos.


- Beijos e se melhorar da dor passa lá em casa, se quiser.


- Tá... se cuida!


Julia não estava com dor de cabeça, não sabia porque livrou a pele da loirinha, talvez porque ela estivesse certa.
Eu tenho que admitir que demorei muito lanchando com o Julio. Não sou tão insensível como a Vanessa disse.
Eu me tornei, quando meu coração parou de acreditar. Sou uma pessoa solitária, sonhando em encontrar alguém, que não me deixe. Como não acredito mais nisto, vou vivendo desta maneira, que é só para me proteger.


Julia e Vanessa não se falaram o dia todo, apenas assunto de trabalho. Quando já iam embora, Julia entregou um envelope para Vanessa.


- Peça para o Julio entregar isto para a professora, amanhã.


- Não vai dar, porque amanhã, é sábado.


- Então guarde e dê a ele na segunda para levar. Boa noite. Disse e foi embora.


Vanessa preferiu não falar nada, porque conhecia sua amiga e ela tinha ficado chateada. Amanhã eu falo com ela.




- Amiga o que você está fazendo aqui? Perguntou Mariana. Você não viu que deixei um recadinho perto do telefone? Seu noivinho ligou, disse que já estava na rodoviária, e está vindo ver você. Já deve estar chegando aqui, e pediu para você ir buscá-lo na rodo.


- Eu não vi o seu recado, fiquei o dia todo aqui no quarto. Não tive uma manhã muito boa. Está vindo! Não me disse que iria vir este fim de semana. Mari você tem que ir comigo buscá-lo. Não quero ir sozinha.


- Isa está com medo de seu noivo... Acho que ele está vindo para... você sabe para que..rss.


- Para com isto. Ele me respeita, você sabe que a religião dele, não permite fazer isto antes do casamento.


- E como você agüenta? Perguntou Mari.


- Mari eu não tenho esse seu fogo.


- É porque você não o ama, se o amasse você ia sentir um fogo daqueles, ia querer arrancar a roupa dele todas às vezes que o visse. Quando se apaixonar de verdade, vai entender o que estou falando, mas chega de papo, vamos... o coitado vai achar que você o esqueceu.



Em casa, Julia não estava a fim mesmo de sair, estava cansada, comeu um miojo, era a única coisa que tinha em casa, isso a fez lembrar que tinha que fazer compras. Sua secretária eletrônica estava cheia de recados de mulheres querendo sair com ela, não entendia, como ainda a procuravam se saia no meio da noite e não ligava depois. Tinha quase certeza que a mulherada gostava de ser tratada como um objeto de prazer.


Quando era doce, quando se importava, elas a deixavam sem explicação, sem se importar com os seus sentimentos, enquanto era vantajoso usavam e abusavam, pra isso ela servia. E decidiu que nunca mais sofreria por mulher alguma. E fazia o mesmo que fizeram com ela.


Julia olhou na estante e viu a poesia. Foi até ela e pegou. Leu os primeiros versos e decidiu procurar na Internet, se encontrava o(a) autor(a) dessa poesia que mexia com ela. Desde que a encontrou, coisas começaram acontecer à sua volta e em si também.


Prisão


Me sinto só estando acompanhada
É como se estivesse num quarto escuro
Isolada, acorrentada, sufocada...
Procuro uma porta, uma saída
Revejo conceitos, sonhos, desejos..



Depois de duas horas já estava cansada de procurar. Entrou em tantos sites e nada. "Acho que Vanessa tinha razão, nunca vou encontrar o(a) autor(a), pensou". Nestas visitas encontrou poesias de Florbela Espanca, com as quais se identificou.

SEM REMÉDIO

Aqueles que me têm muito amor
Não sabem o que sinto e o que sou...
Não sabem que passou, um dia, a Dor
À minha porta e, nesse dia, entrou.
E é desde então que eu sinto este pavor,
Este frio que anda em mim, e que gelou
O que de bom me deu Nosso Senhor!
Se eu nem sei por onde ando e onde vou!!
Sinto os passos da Dor, essa cadência
Que é já tortura infinda, que é demência!
Que é já vontade doida de gritar!
E é sempre a mesma mágoa, o mesmo tédio,
A mesma angústia funda, sem remédio,
Andando atrás de mim, sem me largar!


Estava cansada, só queria se deitar, e ver um filme.


Na rodoviária

O ônibus do Matheus atrasou. As duas se sentaram em um banco e ficaram esperando-o chegar.


- Isa você veio tão quieta até aqui. O que aconteceu na escola? Pensei que iria te encontrar radiante, mas ao contrário, me parece preocupada. Foram as crianças?


- As crianças até que foram legais comigo, foi outra coisa... disse e abaixou a cabeça. Respirou fundo, levantou a cabeça e seus olhos estavam cheios de lágrimas ao olhar para Mari.


- Amiga o que te fizeram naquela escola? Mari era bem esquentada, apesar de ser mais nova que Isa sempre a protegia. Desde que eram crianças defendia sua amiga de quase tudo.


- Mari eu acho que quando chegar na escola, na segunda-feira, vou ser despedida. Perdi a cabeça. Você sabe que sou sempre ponderada, mas hoje, não sei o que me deu. Discuti com a mãe de um aluno.


- Essa mulher deve ter feito muito para você!


- O pior é que ela é bem chegada da diretora, parece que pode fazer o que quer ali dentro.


- Como assim?


- Eu acho que elas têm algum lance intimo, pois quando a Julia entrou na sala deu um beijo na boca da Adriana, que é a diretora.


- Você está brincando, então a sua diretora é lés e, você discutiu com a mulher da outra? Você se ferrou mesmo, amiga.


- Ah, não sei se ela é lês, e muito obrigada por me fazer ficar com mais medo.


- E a discussão foi porque a tal te cantou?


- Não! É que ela levou o filho para lanchar e esqueceu da hora. Depois de quinze minutos sai atrás do menino. Pensei de tudo, e já cansada de procurar estava indo avisar a diretora sobre o sumiço do aluno, quando encontro com a mulher e o filho vindo tranqüilamente... fiquei mais nervosa, falei umas coisas, ainda bem que não falei tudo o que pensei, mas como deve ser amante da Adriana, estou frita mesmo, como você disse...


O ônibus chegou e a conversa parou por ali.











Capítulo 4


Matheus foi o primeiro a descer do ônibus. As duas ficaram atônitas ao ver o noivo de uma e amigo da outra. Ele tinha mudado muito, estava mais forte, como dizem “sarado”. Sempre fora alto e magro, agora estava parecendo outra pessoa. Um corte moderno de cabelo, roupas da moda, é, não apenas parecia, era outro homem. Antes era todo desleixado, não se preocupava em se arrumar. A quase um ano e meio que não se viam pessoalmente. Até o cabelo pintou, estava mais claro do que era, realçando mais o brilho de seus olhos azuis.


- Isa, tem certeza que esse gato, é o seu noivo?


- Eu acho que é... ele está tão diferente.


- Meninas, por acaso viram um fantasma? Venham aqui me dar um abraço, estava louco de saudade de vocês duas. Ele abraçou as duas juntas.


- Má, como você mudou! Andou malhando? Isa e eu quase não o conhecemos... rsss... Está muito gato, e se você não fosse da Isa, eu te pegaria de jeito.


Matheus ficou corado de vergonha com as palavras de Mariana. Então olhou para Isa e lhe deu um beijo daqueles. Ele nunca a tinha beijado daquela forma...


Quando Matheus deixou Isa, Mari a puxou de lado e perguntou:


- Isabel quem é este cara que assumiu o corpo de seu namorado? Que beijo foi aquele... e você sentiu o fogo?


- Mari, pára! Em casa conversamos sobre isto. Apesar de seu namorado estar lindo, beijando muito bem, Isa não sentiu o fogo que Mari fala.


- Má como anda nosso fim de mundo, minha mãe?


- Sua mãe está bem, mandou uma carta para você. E nossa terrinha está mudando muito, em algumas semanas abrirá uma Lan House. O progresso está chegando a olhos vistos.


Isa veio quieta até em casa. Ainda bem que Mari foi e voltou conversando com Matheus, assim não teve que falar muito. E o resto da noite não foi diferente.





Julia acordou cedo pegou sua prancha e foi surfar. Tinha muitos troféus e medalhas que ganhou no surf. Em sua infância e adolescência era considerada a rainha dos mares, não tinha medo de nenhuma onda, sempre foi corajosa, mas quando perdeu seu irmão mais novo... ele quis acompanhá-la numa onda gigantesca, e não conseguiu. Ao cair, a prancha acertou sua cabeça e ele acabou se afogando. Julia mergulhou e quando o encontrou já era tarde. Voltou do mar com o irmão morto nos braços e depois disto, deixou as competições.


Quando se sente muito solitária, vai para o mar, e a presença de seu irmão a preenche. Às vezes acha que o vê, sorrindo para ela. E nesta manhã ele apareceu para ela, talvez tivesse sido uma alucinação, mas o contato foi mais real que tudo em sua vida.

O mar de repente ficou sem ondas, se sentou na prancha, para esperá-las voltarem. Estava bem longe da praia, ficou olhando para a água que estava tão clara, dava até para ver cardumes de peixes, passeando no fundo do mar. Sentiu uma brisa diferente tocar seu rosto.


Julia começou a pensar: "Lucas sinto tanto a sua falta. A mãe ainda me culpa por sua morte. Andei fazendo tantas coisas erradas. Andei encontrando somente pessoas erradas. Não consigo salvar todos".


- "Quem disse que você tem que salvar todos, a minha hora tinha chegado, e já é tempo de você parar de se culpar. Sempre estarei contigo. Abra seu coração para o amor". Nesse momento uma onda começou a se formar, "vamos nessa, minha irmã".


Os dois, por uns instantes surfaram juntos até Lucas desaparecer.


- Obrigada meu irmão, sempre vou te amar. Ela saiu do mar e sentou na areia. Ficou olhando o mar ainda não acreditando no que tinha acontecido a minutos atrás, ninguém acreditaria, se contasse. Desde a morte dele que não sentia o seu coração tão em paz. O dia estava lindo. Algumas famílias já começavam a chegar, o sábado prometia ser bem quente, e observando o movimento, notou algumas pessoas agitadas na praia, olhando para o mar e gritando, mas não entendia o que falavam. Então olhou para o mar e uma pessoa parecia estar se afogando.


Julia pegou sua prancha e correu para onde as pessoas estavam.


- Tem um homem se afogando e ninguém aqui sabe nadar.


Julia se lançou no mar com sua prancha, o homem já estava quase sem força, as ondas cada vez mais o levava para longe da praia. Quando já estava afundando, Julia o puxou para cima, já desacordado. Conseguiu colocá-lo em cima de sua prancha e o trouxe até a praia. Já tinha uma multidão de pessoas por ali, alguns homens foram pegar o rapaz e o levaram para a areia.


Julia fez a massagem cardíaca e a respiração boca a boca, o rapaz não reagia. Com muito esforço ele voltou.


- você está bem?


- Estou um pouco tonto.


- o que aconteceu, como se chama?


- me chamo, Matheus. Eu estava nadando e de repente fui me sentindo mal, fui ficando sem forças, foi horrível, pensei que ia morrer. Se não fosse o meu Deus, não sei o que tinha acontecido.


- Bom, acho que seu Deus me mandou ir te salvar... rss. Eu sou a Dra. Julia.


- Caramba, meu senhor é o melhor mesmo, me mandou uma médica.


- Acho que é seu dia de sorte. Você deve ter tido uma queda de pressão. Provavelmente não comeu nada antes de vir para cá.


- A senhora tem razão, não comi nada, apenas tomei um cafezinho. Eu estava com tanta saudade desse mar. Cheguei ontem a noite do interior, ninguém sabe que estou aqui na praia, elas estavam dormindo, quando saí. Dra. não estou bem, ando me sentindo tão fraco ultimamente. A senhora poderia ligar para a minha noiva, para ela vir me buscar?


- Posso, vamos para minha casa e eu te examino melhor. E ligo para sua noiva. Julia foi pensando, esse rapaz deve estar doente, apesar de aparentar estar bem.


Levaram uns 10 minutos para chegar ao apartamento de Julia. Ela o levou para o quarto de visitas, e foi para o seu pegar sua maleta.


Julia fez várias perguntas a ele enquanto o examinava, mediu a pressão arterial estava alta 22x16. Fez outros exames e o resultado a deixou preocupada. Estava com febre também.


- você é diabético?


- Que eu saiba não!


- Mesmo assim vou fazer o destra. Esperou os 5 segundos para o resultado.


- Tá, normal. E sua pressão é alta?


- é baixa.


- mas hoje está muito alta. Ela colocou um remédio debaixo da língua dele e lhe deu um diurético e antipirético.


- Dra. eu não estou bem?


- Agora não, mas vai ficar bem, me passa o número para ligar para sua noiva e como ela se chama?.


- Isabel


Matheus deu o número e ela foi ligar de seu quarto.


- Alô, eu gostaria de falar com a Isabel.


- Eu vou chamá-la. Dona Fátima foi até o quarto e Isa ainda estava dormindo. - Isabel acorda, telefone para você, é uma mulher.


- Mulher... já pensou na diretora da escola. Essa mulher não disse o nome?


- Não.


- Alô...


- O Matheus pediu para eu ligar para você. Ele passou mal na praia. Como sou médica e moro em frente à praia, o trouxe para o meu apartamento.


- e o que aconteceu, ele está bem?


- Não, não está muito bem. Venha para cá que conversaremos sobre ele. Ela passou o endereço e desligou. Como ele estava medicado, foi tomar banho, estava de areia até a alma.



- O que aconteceu, Isabel?


- Uma médica ligou, disse que Matheus passou mal na praia e ela o levou para o apartamento dela. Agora tenho que ir lá, para buscá-lo. Deixa tomar um banho, para acordar.


Depois de uma hora, Isabel estava batendo na porta de Julia.


As duas ficaram se olhando sem entender. Não podia ser!


Isabel não podia acreditar. Essa mulher de novo, porque o destino estava fazendo isto com ela.

Julia pensou, não acredito, a professorinha é a noiva do Matheus. O que o destino está armando para mim.


- Desculpa, entra. As duas ficaram sem graça.


- Bom dia. Ela olhou aquele enorme apartamento, era maior que a casa de seus pais inteira. O que aconteceu com o Matheus?


- Isabel vamos conversar. Seu noivo está doente, não sei se é grave. Eu vou ter que fazer alguns exames nele, agora está com a pressão muito alta e febre. Eu o mediquei. Ele estava nadando e sentiu mal e quase se afogou. Eu estava na praia e consegui o salvar de se afogar, mesmo assim ele ficou um tempo desacordado. Quando voltou disse que não estava se sentindo muito bem. Posso levá-lo para minha clinica, ou você prefere outro lugar?


- Não sei, ele não mora aqui. Ele paga um convênio, mas não sei qual.


- Depois veremos isto, vou levá-lo para a minha clínica. Venha vê-lo.


Isabel seguiu Julia sem dizer nada, ainda não acreditava que aquela mulher era a mesma que ontem discutiu e que ia rezar para nunca ter que precisar dela, e olha só, acabou salvando o seu noivo.


- Isabel! Seus olhos encheram d'água quando viu sua noiva.


Isabel foi até ele e sentou ao seu lado. Ele a abraçou tão forte.


- Pensei que ia morrer, tive medo de nunca mais te ver, a única coisa que eu pensava na água era em você... os dois ficaram abraçados e ele chorava enquanto contava o que tinha acontecido. Se não fosse a dra. Julia me tirar do mar.


- Matheus vou te levar para minha clinica. Com certeza, você quer tomar um banho antes de ir, mas deixa eu medir sua pressão primeiro. Depois de uma hora não tinha abaixado quase nada.


Julia depois que verificou a pressão do rapaz, deu uma olhada para Isa e balançou a cabeça.


- Vou pegar uma roupa para ele.


- Má vamos indo para o banheiro para você tomar um banho.


- Só me leve até lá depois você sai, porque não é certo você me ver sem roupa antes de casar.... rss.


- Nem doente você vai me deixar ver seu corpinho... rss.


- Não, só casando... rss.


- Cuidado para não cair, disse e saiu rindo.



Quando Julia voltou Isa estava sentada na cama. Estava preocupada.


- Acho que isto vai servir. Era do meu irmão.


- Julia, obrigada e desculpa por ontem.


- Não me agradeça agora, vou cobrar depois. Já me deve duas.


- O que?















Capítulo 5

- Você está brincando comigo?

Julia apenas balançou a cabeça negativamente, lhe sorriu maliciosamente, e não disse nada. Isabel por sua vez ficou tão chocada, por medo do que teria que pagar achou melhor não perguntar. Com a cara que Julia fez, já imaginou como seria o pagamento. Naquele momento não podia dizer nada, porque seu noivo não estava bem.

Saíram do quarto para Matheus se vestir. Isabel ficou do lado de fora do quarto e Julia seguiu para a sala.

Isabel começou a pensar: Meu deus, não me deixe odiar mais esta mulher do que já odeio. Como pode ser tão horrível? Estou tão nervosa... ela só visa seu próprio prazer, mas se pensa que vou pagar do jeito que está querendo, não vai conseguir nada comigo. Ela não me conhece. E o Julio? Como vai crescer, com uma mulher dessa como mãe? Pensando nisto, a casa é tão arrumada, nem parece que uma criança mora aqui. Bom talvez ele more com o pai, com a vida que ela tem, não tem tempo para cuidar de um filho. Nem posso imaginar as orgias que acontece nessa casa.

- Isa vamos, o que estava pensando, estou aqui parado e você não me vê. Isa não respondeu a pergunta dele e seguiram para a sala.

- A roupa do meu irmão ficou ótima em você, podemos ir.

- Obrigada Dra. Julia, não precisa se preocupar, vou levar o Matheus para um hospital público, pois não temos dinheiro nem para entrar em sua clínica. Vamos Matheus, não quero dever mais do que já estou devendo.

Julia começou rir de Isabel, pensou a professorinha está querendo me matar. Levantou-se, pegou a chave do carro e disse vamos. A ignorou totalmente.

Matheus não estava entendendo nada, não sabia o que fazer se ia ou não, com a doutora. Olhou para Isa com cara de bobo.

- Isabel vamos, pára de besteira. Para sua tranqüilidade, minha clínica tem convênio com o Sus, não terá que pagar nada. E mesmo que tivesse não ia cobrar nada dele.

- Eu sei que não cobraria nada dele. Pegou a mão do noivo e saiu do apartamento.

Irritar Isa estava sendo divertido, sem falar que ela fica linda nervosa, seus olhos adquirem um verde mais intenso, e seu rosto fica mais vermelho que um pimentão.

Os dois chegaram primeiro na porta do elevador, Isa apertou o botão enquanto Julia aproximava-se. Estava com tanta raiva. Olhar para aquela mulher, apesar de linda era horrível. Queria estar sozinha para falar tudo o que pensa para ela, mas mesmo assim não resistia, a olhava e sentia raiva. O elevador demorou um pouco e o silêncio entre os três se fez. Matheus provavelmente estaria rezando. Julia deveria estar pensando perversidade com ela. Não podia pensar nisto que ficava desesperada. Coçou a cabeça, colocou a mão sobre o rosto, e suspirou fundo.

O elevador chegou. Entraram. O casal ficou de um lado, Julia do outro, propositalmente de frente para Isa. Matheus estava de cabeça baixa. Julia não tirava os olhos de Isa, que sentia aquele olhar penetrar sobre ela. Resolveu olhar para Julia e ganhou uma piscada, isso foi demais, balançou a cabeça e acabou apertando a mão de Matheus, que gritou.

- Ai!!!.. que foi Isabel, você está muito estranha.

- Eu também estou achando, acho que vou receitar um calmante para ela, por que está precisando... rss. Tenho um ótimo para te dar, mas você pode se viciar. Ela falava com a cara mais inocente do mundo.

- Eu não preciso de calmante algum. Agora foi a vez de Matheus dar um aperto na mão dela para parar com aquilo.

- Posso perguntar uma coisa para vocês?

- Pode.

- Por acaso já se conhecem, porque estou sentindo uma animosidade entre vocês.

- Nunca nos vimos antes, acho que sua noiva está nervosa por sua causa ou está de TPM...

Isa deu uma olhada para a Julia, estava a ponto de voar no pescoço dela e torcer, era tão cínica e mentirosa. E o que digo? Não posso fazer o que estou pensando, ela pode arruinar com o meu trabalho, se já não o fez, mas não sei. Ainda salvou a vida do Matheus, de todas as pessoas do mundo, que poderia ter ajudado meu noivo, por que tinha que ser ela?

- Não nos conhecemos. Teve que se render à mentira de Julia.

O visor do elevador indicou a chegada à garagem. Caminharam alguns metros até o carro de Julia, um Eco Sport preto.

- Nossa que carro! Nunca imaginei andar em um desse. Hoje é mesmo o meu dia de sorte.

Ele entrou atrás, e quando Isa fez menção de entrar também, Julia disse venha na frente comigo, então sussurrou: eu não vou te atacar agora, rss.

Isa entrou e sua cabeça não parou mais de pensar. Começou a ficar apavorada com a possibilidade de Julia fazer tudo o que estava imaginando. Puxou o cinto de segurança, mas não conseguia encaixar. De repente sentiu a mão quente de Julia sobre a sua a ajudando. Foi coisa de segundo, mas o suficiente para sentir seu coração acelerar de uma forma que nunca sentira antes.

Julia ligou o rádio e falou:

- Eu me apaixonei por esta música. Ouvi outro dia à noite voltando da casa da minha amiga Vanessa. Sabe, faz tempo que uma música não me toca tanto e essa é especial.

A música começou a tocar... “Eu quero ficar perto de tudo o que acho certo... Ate o dia que eu mudar de opinião...

- Esta música também me toca muito, vivo cantando-a desde que ouvi outro dia à noite, quem sabe não ouvimos no mesmo dia e hora.

- você acredita nisto?

- Acredito, mas essa música vai se tornar um tormento agora, porque toda a vez que ouvir vou acabar pensando em você.

- Vai pensar em mim e eu vou pensar em você e não será nenhum tormento, antes, um prazer, é a nossa música...

Matheus estava tão maravilhado com o carro que não prestou atenção na conversa das duas.

Pela primeira vez se olharam sem segundas intenções ou ódio, foi inesperado esse momento, que cada uma sentiu de seu jeito e, no meio estava Matheus falando sem parar sobre o carro.

Quinze minutos depois estavam chegando à clínica Fernandes Aguiar. Isa já havia passado algumas vezes em frente e, sempre achou um dos edifícios mais bonitos daquele local. Deveria ter uns 15 andares.

- Julia o edifício todo é de sua clínica?

- É sim. Depois te levo para conhecer tudo, se quiser.

Julia os levou para o 1º Andar que funcionava como um pronto-socorro. Em uma triagem inicial, os casos simples eram imediatamente atendidos e liberados ali mesmo. Os casos mais graves, eram devidamente encaminhados às respectivas clínicas. Ricos e pobres, sem distinção, recebiam o mesmo atendimento. Julia sempre fez questão de primar pela qualidade e eficiência dos serviços oferecidos.

- Isabel faça a ficha dele, que vou ver quem está de plantão hoje. Os deixou ali.

- Bom dia, quem vai passar em consulta com o médico? Perguntou a atendente.

- Meu noivo.

Isabel fez a ficha de Matheus. Quinze minutos depois foi chamado pela própria Julia, que já estava com seu jaleco branco e estetoscópio no pescoço. Ficou quase 10 minutos escrevendo. E Isa observava. A médica "era diferente daquela mulher que a fazia ter ódio... como mudava, nem sombra da outra, que a intimidava". Nossa música, que convencida.

- Matheus você vai fazer alguns exames. Uns ficarão prontos hoje mesmo, outros daqui a uns 15 dias. Dê esta folha para a enfermeira que ela saberá o que fazer. Isabel veja quanto está a pressão dele e venha me falar. Bom, agora podem ir.

- Obrigado, Dra. eu nunca vou poder pagar o que está fazendo por mim, vou rezar para o meu senhor todos os dias para que sempre cultive a bondade em seu coração.

Isa não agüentou ao ouvir a palavra bondade, e começou a tossir. Não via bondade alguma naquele ser humano depois que tirava o seu jaleco de médica... se desculpou, mas Julia notou que aquela tosse era por sua causa.

- Parece que temos uma descrente por aqui, Matheus. Reza sim para mim porque preciso, acham que não tenho mais salvação, falou e olhou para Isa.

Neste momento o celular de Isa tocou, pediu licença e saiu da sala para atender.

- Alô.

- Isa o que aconteceu com Matheus? A tia Fátima acabou de me contar que ele passou mal. Onde vocês estão?

- Mariana estamos na clínica Fernandes Aguiar, venha para cá. O Matheus está sendo muito bem tratado. Eu nem vou começar a te contar, que o impossível acontece. Beijo, amiga. Venha logo, não quero ficar sozinha aqui.

- Isabel que negócio é esse de o impossível acontece? Não estou entendendo. O que está acontecendo, não vai me contar?

- Agora não, tchau.

- Tia a Isabel estava muito estranha, me pareceu muito nervosa e mandou ir para a clínica Fernandes Aguiar.

Matheus já estava fazendo os exames.

Tenho que voltar ao consultório dela, se falar alguma gracinha não vou deixar quieto. Respirou fundo. Bateu na porta e ouviu-a mandando entrar.

- Entra Isabel

- A enfermeira disse que a pressão abaixou um pouco, mas a febre continua alta. Julia, porque ele está com essa febre? Não parece estar resfriado.

- Ainda não sei. Mas ele vai ter que começar a tomar remédios para a pressão. Espero que não esteja nada sério. Você tem sorte. Ele é um rapaz muito bom.

- Me fale a verdade, ele pode ter algo grave?

Julia ficou pensando no que dizer, não podia afirmar algo que não tinha certeza. – Vamos esperar os exames.

- Você é clínica geral?

- Não, me especializei em cardiologia e oncologia. Mas faz três anos que deixei a oncologia. Estava perdendo muitos pacientes e comecei a me sentir incapaz de ajudá-los.

- Você acha que ajudou mais que perdeu?

- Muitos se recuperaram.

- Então, é isto que importa. Os que foram era porque tinha chegado a hora deles.

- Alguém muito especial me disse a mesma coisa lá na praia. Tenho certeza que ele falou comigo. Tem acontecido alguns fatos inexplicáveis, desde que encontrei uma coisa...

- Acredito que tem alguém lá em cima que faz as coisas certas e, nós que achamos que é inexplicável. Nunca estamos preparadas para entender o que Ele faz. Tudo acontece na hora certa, seja bom ou ruim. Bom, vou ficar com o Matheus.

Foi a primeira vez que conversaram direito. Isa entrou já preparada para encontrar aquela Julia que não suportava, mas deparou-se com uma mulher que tem seus medos, que sofre em não poder curar todos os seus pacientes. Ela deveria andar com seu jaleco de médica o tempo todo, assim eu a suportaria mais que 5 minutos.

Julia ficou pensando se continuaria irritando Isa. Decidiu que ia, era divertido vê-la nervosa, ficava tão bonitinha...


Continua...

Fernanda
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